O projeto
O projeto “Florestando o Semiárido: Agricultura Familiar Guardiã da Caatinga” será realizado pelo PATAC em parceria com o Coletivo Regional das Organizações da Agricultura Familiar, com o patrocínio da Petrobras e terá duração de 2 anos. Sua abrangência territorial será em 12 municípios do Estado da Paraíba: Boa Vista, Cubati, Gurjão, Juazeirinho, Olivedos, Pedra Lavrada, Pocinhos, Santo André, São João do Cariri, São Vicente do Seridó, Soledade e Tenório, localizados na Região Semiárida, nas microrregiões do Cariri, Seridó e Curimataú.
Tendo o Semiárido paraibano e o Bioma Caatinga como cenário, o projeto está voltado para a agricultura familiar camponesa, priorizando ações com mulheres agricultoras, crianças e adolescentes de escolas da região. Sua linha prioritária de atuação é de Florestas e Climas, associada às temáticas biodiversidade e água. Os processos de formação relacionados a crianças e adolescentes, se darão na perspectiva da educação sócio-ambiental.
O projeto tem como objetivo promover a conservação e uso sustentável do Bioma Caatinga, assegurando equidade de gênero, enfrentando os efeitos das mudanças climáticas, melhorando as condições de vida das famílias agricultoras, focando no manejo sustentável da biodiversidade, da água e do solo.
Viveiros de mudas
As Sementes da Paixão é o termo pelo qual ficaram conhecidas na Paraíba as sementes nativas, ou crioulas, adaptadas às condições climáticas e ambientais locais. Estas sementes constituem em um patrimônio genético selecionado e preservado por famílias agricultoras há várias gerações, os “guardiões e guardiãs”.
Elas são armazenadas em silos, tonéis ou garrafas pet em bancos de sementes comunitários ou familiares espalhados pelo Estado, como uma estratégia para se ter a semente sadia e segura no momento certo de plantar, garantindo autonomia e segurança alimentar para os agricultores. O nome veio da "paixão" que os agricultores têm pela sua semente.
Entre essas sementes estão também às plantas nativas do bioma Caatinga, que são reproduzidas através dos viveiros. O projeto ‘Florestando o Semiárido: Agricultura Familiar Guardiã da Caatinga tem por estratégia a recuperação de 85 hectares de áreas degradadas, por meio do enriquecimento e da manutenção da cobertura vegetação nativa em áreas produtivas e/ou de áreas de reserva legal, da estruturação de agroflorestas, de campos de multiplicação de sementes crioulas e de forragem consorciada com plantas da Caatinga.
Formações no campo da agroecologia, gênero, infância e juventudes
O Florestando o Semiárido: Agricultura Familiar Guardião da Caatinga será realizado num território onde se valoriza o processo de formação de todos os membros das famílias agricultoras.
O Patac e o Coletivo Regional das Organizações da Agricultura Familiar, parceiro nesse trabalho, acredita que a Agroecologia não se faz de forma isolada, mas envolvendo homens, mulheres, jovens e crianças.
Por isso, uma das estratégias do projeto é a formação de 160 crianças e adolescentes de escolas rurais, de ensino fundamental, deste território, através de atividades relacionadas à educação ambiental, que orientem atitudes e práticas de respeito à natureza e de convivência com a região semiárida, por meio de um o processo de aprendizagem que os adolescentes e as crianças compreendam e conheçam de forma lúdica, boas práticas de adaptação e redução dos efeitos do clima, com foco no uso sustentável e conservação das sementes nativas e dos recursos florestais da Caatinga.
E assim, proporcionando às gerações futuras as condições através do processo educativo de cuidarem e fortalecerem as ações em torno do meio ambiente onde vivem.
Relações de gênero
O trabalho com as mulheres tem se fortalecido politicamente neste território, a participação das mulheres em importantes espaços, como: na produção de alimentos no arredor de casa, nas casas de beneficiamento, na gestão de Fundos Rotativos Solidários (FRS’s) e na liderança das feiras agroecológicas, é uma prova de que essas mulheres querem avançar para além das suas propriedades e das suas famílias. Elas estão buscando se organizar em torno das necessidades de geração de renda e autonomia, mas também exigem do Coletivo e do Patac espaços onde possam discutir questões de
Relação de Gênero, Feminismo, Machismo, Violência contra as mulheres e espaços de falas e de apoio umas às outras.
O projeto Florestando o Semiárido irá fomentar o debate sobre a equidade de gênero e autonomia das mulheres, destacando o seu papel na produção de alimentos saudáveis,
no uso e conservação da Caatinga e das sementes crioulas, bem como, momentos de formação sobre a divisão sexual do trabalho, para tanto, trará para esses momentos, a Campanha pela Justa Divisão do Trabalho Doméstico, que visa construir uma realidade justa para todas as mulheres, que atualmente gastam mais de 20 horas semanais com afazeres domésticos. Essa iniciativa foi elaborada durante três anos pela Rede Ater
Feminismo e Agroecologia do Nordeste. Para isso, a Rede Ater contou com participação de agricultoras, professoras, sindicalistas, assessoras técnicas e pesquisadoras. A campanha partiu de uma pesquisa nacional sobre Assistência Técnica Rural para mulheres, que diagnosticou a desigualdade na divisão sexual de trabalho. A campanha já foi lançada em diversos estados do Nordeste, como Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Estabelecer relações de equidade entre homens e mulheres é fundamental para o processo de transição agroecológica, pois enquanto mulheres forem exploradas e violentadas, não haverá avanços estruturantes na sociedade.
Manejo sustentável dos
recursos hídricos
O Florestando o Semiárido irá promover ações para reverter processos de degradação do solo, preservar cursos d’água, através da implementação de inovações sustentáveis de manejo do solo, através de 30 barragens de base zero (BBZ’s).
Essa tecnologia simples propõe a construção de barragens ao longo de rios e riachos com o propósito de diminuir a velocidade da água e impedir que o solo seja arrastado pela sua força. Quando um rio corre rápido demais, a terra e seus nutrientes acabam sendo levados pela correnteza e, muitas vezes, acumula-se em um ponto específico, aterrando o leito do rio.
O Barramento Base Zero (BBZ’s) não propõe barragens como as que conhecemos e sim barragens de até um metro de altura construídas com pedras encaixadas sem argamassa de forma a deixar espaço para a água passar.
Essa tecnologia destaca-se no Semiárido por ser construída com matéria prima do próprio solo, através de pedras conhecidas como seixos e outros minérios existentes nesta região, sem ser necessário a compra e o transporte de materiais externos, o que facilita o acesso das famílias agricultoras a essa estratégia de convivência.
Sistemas de Reuso de Água
Reaproveitar a água da louça e do banho para manter as plantas medicinais, as fruteiras e as forrageiras, tem sido um constante aprendizado entre as famílias agricultoras experimentadoras da região do Cariri paraibano, onde o Patac realiza assessoria sócio-organizativa. Além de ser uma prática bem antiga para quem vive na região do Nordeste Semiárido.
Porém, com o passar do tempo, esse aprendizado tem cada vez mais se qualificado, através de pesquisas participativas realizadas em parceria com universidades e institutos de pesquisa, para permitir o uso adequado dessas águas sem colocar em risco as questões de saúde e de higiene sanitária, bem como o cuidado com o solo.
A estratégia foi muito bem desenvolvida pelas famílias e por isso tornou-se importante nesse processo de produção de alimentos humano e animal. O projeto Florestando o Semiárido, realizado pelo Patac, com patrocínio da Petrobras, deverá realizar a implementação de 80 sistemas de tratamento de reuso da água nas propriedades de agricultoras e agricultores familiares neste território de atuação.